27 de fevereiro de 2013

BRINCADEIRAS DE BRINCAR

A felicidade estava plantada nos corredores das casas vizinhas cheias de crianças brincando e na minha também.

Éramos crianças e tudo fazia sentido. Ouviam-se agitação e inquietação  em razão das refeições saborosíssimas das mães dos amigos e  não sabia-se se a alegria provinha-se das  comilanças deliciosas ou porque depois de uma meia hora as brincadeiras criariam vida....

Tempos  bons aqueles, porque fiz parte deles, hoje vejo que poderia ter feito mais, mas minha filha as simboliza a todo instante, eita "felicidade guerreira". Felicidade que não morrerá jamais, pois o encantamento mora é bem dentro da gente e plantamos uma sementinha de cada vez...

Mesmo integrante desse espaço infantil, pretendo destacar meu olhar de observadora diante desse ritual pueril, pois sou uma educadora e enfoco aqui uma distância de tal protagonismo para que possa entendê-lo em toda sua completude. Já que  enquanto agente de brincadeiras o que importa é brincar. E para os estudiosos, ou apenas observadores como eu, o importante é decifrar tais feitos.

Eram vidas  que saltitavam no corpo todo através das  brincadeiras de roda recheadas de cantigas folclóricas, as quais oralizávamos com maestria, pois dominávamos o primeiro instrumento musical inerente a todo ser pensante: as cordas vocais.  A sapiência  infantil acontecia por encanto: falávamos, cantávamos e remexíamos, pois a vida semeava-se bem ao nosso redor e os frutos saborosos de dias contemplativos afloravam-se nas escolas porque a mesma recebia a contunuidade das ruas e dos lares, ou seja, a grande roda da vida era semeada em toda parte por onde íamos.

Verdade! Tínhamos as brincadeirras de roda cantadas e as de rua  na ponta do corpo até o último fio de cabelo. Eram elas: fui ao tororó, se eu fosse um peixinho, escravos de jó, esconde-esconde, queimada, amarelinha, barra manteiga, pega-pega, soltar pipa, entre outras artes da infância. Mas o que houve com as mesmas? Cadê as crianças de hoje ao brincarem nas ruas de casa e nos parques? Onde estão os parques livres de fiação elétrica a possibilitarem as brincadeiras de pipas ao planarem suas graças ao vento? A Era cibernética, o que fez com elas?

Hoje não há vida infantil nas residências, não falo de limites, pois eles devem existir sempre. Respeitar os horários das refeições, dos telejornais, mas e todo resto? Ninguém mais conversa, apenas com a tela do computador. As  crianças de hoje são criadas assim: cada uma tem seu computador de mão. Conversam com alguém  lá de  longe, mas em sua própria casa inexistem as vivências de outrora, nas quais as receitas eram demoradas justamente para as visitas terem mais tempo para conversarem e as mães sentirem seus filhos mais perto. O que importava era o processo no qual a receita da alegria se fazia.

Ainda bem que temos os estudos realizados por Luis da Câmara Cascudo e grupos como "palavra cantada", "barbatuques", entre outros a salvarem o restinho de vida que necessita ascender-se dentro das crianças de hoje.

Sou feliz, pois possibilitei-me relembrar dos tempos passados no alegre presente oferecido pela riqueza existente em minha filha, a mesma que encoraja-me a não esquecer as brincadeiras. Pronto, decifrei a grandiosa magia das brincadeiras de roda. Ao assistir tais encantamentos em vídeos ou protagonizados por nós em casa, sinto que o corpo todo pede mais e mais. O diálogo corporal firma-se, e não só isso, as crianças ativas em brincadeiras são espertas nas escolas , inteligentes, aprendem mais. Quando brincamos o nosso olhar modifica-se para melhor porque confraternizamos sabores diferenciados num corpo, corpo esse que em conjunto vira mil, as melodias e acordes musicados geram respostas corporais, vivemos em prontidão porque os mesmos responderam de acordo com as perguntas feitas numa dança ou cantiga. E as mesmas geram histórias, eita vida de criança que sempre existirá em mim!




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